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Uma em cada cinco famílias chefiadas por pessoas pardas ou pretas sofre com a fome no Brasil

Aproximadamente, uma em cada cinco famílias chefiadas por pessoas autodeclaradas pardas ou pretas no Brasil sofre com a fome (17% e 20,6% respectivamente) – o dobro em comparação aos lares chefiados por pessoas brancas (10,6%). A situação é ainda mais grave quando se leva em conta o gênero: 22% dos lares chefiados por mulheres autodeclaradas pardas ou pretas sofrem com a fome, quase o dobro em relação a famílias comandadas por mulheres brancas (13,5%).

Novos dados divulgados pela pesquisa Vigisan, de 2022, evidenciam que a falta de comida está ligada à discriminação racial e de gênero. Foto: Tânia Rego/Agência Brasil

Os dados foram obtidos pelo recorte de raça e gênero do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil (Vigisan), uma realização da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), com dados obtidos pelo Instituto Vox Populi entre novembro de 2021 e abril de 2022. O levantamento dá uma dimensão mais exata da fome no Brasil, que atingiu 33,1 milhões de pessoas em 2022, muitas das quais vivem em casas chefiadas por mulheres negras – pessoas autodeclaradas pardas ou pretas, conforme a classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).


“A situação de insegurança alimentar e fome no Brasil, que foi denunciada ao mundo pelo II Vigisan, em 2022, ganha maior nitidez agora. A falta de alimentos e a fome são maiores entre as famílias chefiadas por pessoas negras, principalmente mulheres negras. Precisamos urgentemente reconhecer a interseção entre o racismo e o sexismo na formação estrutural da sociedade brasileira, implementar e qualificar as políticas públicas tornando-as promotoras da equidade e do acesso amplo, irrestrito e igualitário à alimentação”, afirma Sandra Chaves, coordenadora da Rede Penssan.


Maior escolaridade não é suficiente

O recorte de raça e gênero do II Vigisan 2022 mostra que a maior escolaridade (quando a pessoa no comando da família tem 8 ou mais anos de estudo) não protegeu as famílias de mulheres negras da falta de alimentos. Um terço delas (33%) sofrem com insegurança alimentar moderada ou grave, comparado com 21,3% de homens negros, 17,8% de mulheres brancas e 9,8% de homens brancos.


Crianças em casa e menos comida na mesa

A fome foi uma realidade para 23,8% das famílias que tinham crianças menores de 10 anos de idade e eram chefiadas por mulheres negras. Neste grupo, apenas 21,3% dos lares encontravam-se em segurança alimentar, menos da metade do que foi encontrado nos lares chefiados por homens brancos (52,5%) e quase metade do que ocorre nos domicílios chefiados por mulheres brancas (39,5%).


Emprego e renda ajudam na alimentação, mas de forma distinta

A situação de emprego e trabalho também influenciou a segurança alimentar das famílias no final de 2021 e início de 2022, segundo a cor da pele autodeclarada da pessoa responsável. Onde havia desemprego ou trabalho informal, a fome se fez presente na metade dos lares chefiados por pessoas negras, comparado com um terço dos lares chefiados por pessoas brancas. Na condição de desemprego, a insegurança alimentar grave, ou seja a fome, foi mais frequente em domicílios chefiados por mulheres negras (39,5%) e por homens negros (34,3%).


Quando a pessoa responsável pelo domicílio tinha emprego formal, e a renda mensal familiar era superior a 1 salário mínimo per capita (SMPC), a segurança alimentar se fez presente em 80% dos lares chefiados por pessoas brancas e em 73% dos chefiados por pessoas negras.


Acesse aqui o levantamento


Fonte: Rede Penssan, com edição do ANDES-SN

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