NOTA DE REPÚDIO AO EVENTO ‘1ª SEMANA DO MEIO AMBIENTE - "SUSTENTABILIDADE: PERSPECTIVAS AGENDA DE 2030" PROMOVIDO PELO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SUSTENTABILIDADE SOCIOECONÔMICA AMBIENTAL DA UFOP, EM PARCERIA COM A FUNDAÇÃO DO MEIO AMBIENTE (FEAM).
No dia 26 de maio de 2021 a Frente Mineira de Luta das Atingidas e Atingidos pela Mineração em MG (FLAMa) tomou conhecimento da realização da 1ª SEMANA DO MEIO AMBIENTE - "SUSTENTABILIDADE: PERSPECTIVAS AGENDA DE 2030" que é promovida pelo Programa de pós-graduação em Sustentabilidade Socioeconômica Ambiental da UFOP, em parceria com a Fundação do Meio Ambiente (FEAM).
Manifestamos o nosso repúdio a este evento uma vez que, conforme divulgação da programação:
Comporá a mesa/palestra de abertura do evento o Gerente Geral de Sustentabilidade na Samarco Mineração S/A.
Perguntamos: que legitimidade tem para falar sobre “Gestão ambiental de Minas Gerais”, alguém vinculado à mineradora responsável pelo rompimento criminoso da barragem de Fundão, de propriedade da Samarco, Vale e BHP Billiton, ocorrido em 05 de novembro de 2015 em Mariana-MG e que imediatamente matou 20 pessoas e destruiu, contaminou e matou modos de vida, a fauna e a flora por mais de 600 km até a lama/os rejeitos da barragem chegarem e adentrarem o mar no estado do Espírito Santo?
A programação do evento não conta com um representante sequer dos movimentos sociais que atuam na região em que a UFOP está inserida e que é o mesmo território completamente destruído pelo rompimento criminoso da barragem de Fundão.
Perguntamos: Porque o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), o Movimento Pela Soberania Popular na Mineração (MAM) e a Frente Mineira de Luta das Atingidas e Atingidos pela Mineração em MG (FLAMa), que são âmbitos organizativos das lutas contra a destruição causada pela mineração na região em que a UFOP está inserida, não compõem, não foram convidados a compor nenhuma palestra da ‘1ª SEMANA DO MEIO AMBIENTE’ e assim poder manifestar seu entendimento e posição sobre ‘sustentabilidade ambiental’?
A programação do evento não conta com a participação de nenhum atingido e/ou atingida pelo rompimento criminoso da barragem de Fundão, de propriedade da Samarco, Vale e BHP Billiton, ocorrido em 05 de novembro de 2015 em Mariana-MG, tampouco pessoas atingidas pelos recentes conflitos envolvendo a barragem de Doutor, da Vale em Antônio Pereira, ou da mina Gerdau, em Miguel Burnier; ou ainda, as famílias vítimas do processo de possessão mineral por parte da Pedreira Irmãos Machado, em Amarantina.
Perguntamos: é possível falar sobre MEIO AMBIENTE e ‘SUSTENTABILIDADE’ sem dar voz e vez para quem sofreu os danos do maior crime ambiental da história do Brasil, que repetimos, trata-se do rompimento criminoso da barragem de Fundão, de propriedade da Samarco, Vale e BHP Billiton?
Teríamos muitos questionamentos mais a serem feitos, mas diante do que o evento se propõe a ser e se propõe a pautar, nós mesmos respondemos a última pergunta acima. SIM! É POSSÍVEL PAUTAR ACERCA DO MEIO AMBIENTE E DA ‘SUSTENTABILIDADE’ POR UM VIÉS QUE DESCONSIDERA COMPLETAMENTE AS VIOLÊNCIAS E DESTRUIÇÕES AO MEIO AMBIENTE E À VIDA HUMANA CAUSADOS PELA ATIVIDADE DA MINERAÇÃO EXTRATIVISTA! E PIOR, É POSSÍVEL DAR VOZ E VEZ AOS RESPONSÁVEIS POR ESTAS VIOLÊNCIAS E DESTRUIÇÕES E SILENCIAR OS ATINGIDOS E ATINGIDAS, OU SEJA, É POSSÍVEL ASSUMIR UMA POSIÇÃO DE CONCORDÂNCIA COM TAL CICLOS E FORMAS DE DESTRUIÇÃO!
Diante disso, a FLAMa, também manifesta sua PREOCUPAÇÃO sobre as posições ético-políticas e teórico-científicas assumidas no âmbito da produção de conhecimento e ciência nas instituições públicas de ensino superior, especialmente, as que atuam na região em que ocorreu o maior crime ambiental da história do Brasil.
Há algumas semanas a FLAMA participou do evento de lançamento do projeto de extensão “UFOP e IFMG de Mãos Dadas Com o Pereira”, uma iniciativa para aplicar a multa imposta pelo Ministério Público do Trabalho à Samarco (pertencente à Vale) obrigando-a a reconhecer Ouro Preto – e, portanto, Antônio Pereira – como atingidos diretos pelo rompimento da Barragem de Fundão. Apesar de vários outros projetos contarem com a participação de professores e professoras tanto da UFOP como do IFMG, somente este mereceu atenção da Reitora da universidade, do diretor do IFMG campus Ouro Preto, do senhor prefeito, e até da empresa criminosa, convidada de honra como “parceira” do projeto que só é necessário porque essa mesma empresa produziu o maior crime ambiental da história do Brasil.
Agora, novamente nos deparamos com a divulgação de uma atividade político-científica, sim, são atividades políticas também, pois quando se senta à mesa, quando se dá voz e vez aos responsáveis pelo maior crime ambiental do país e quando desconsidera completamente a possibilidade dos movimentos sociais e da comunidade diretamente atingida falar e denunciar acerca dos impactos negativos que a destruição do meio ambiente ocasiona em suas vidas, se está assumindo um lado, se está assumindo o lado dos responsáveis criminosos.
A FLAMA reconhece e reivindica a pluralidade do conhecimento, mas também, reconhece e entende que o conhecimento e a ciência não são neutros!
Um evento que tem por objetivo “envolver a sociedade em um debate interativo em que o conhecimento sensibilize as pessoas quanto ao seu papel na preservação do Meio Ambiente” (1ª Semana do Meio Ambiente | Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP), mas que, apenas permite que os movimentos sociais que atuam na região no enfrentamento aos desmandos das mineradoras e violências causadas pela mineração extrativista, que o movimento sindical de trabalhadores na mineração na região que conhece de perto a destruição ambiental causada pelas mineradoras em seus processos produtivos, que as e os diretamente atingidos pela poeira, pela contaminação da água, pelo desmatamento, pela destruição dos rios e fontes de água, etc., participem apenas como público, como ouvintes das palestras propostas, absolutamente não cumpre o objetivo que dizem se propor alcançar.
Por fim, a FLAMA como espaço de fomento das lutas contra o atual modelo predatório operacionalizado pelas mineradoras no estado de Minas Gerais, está aberta ao diálogo e à disposição dos realizadores do evento para pautar a temática do meio ambiente, mas com viés profundamente, politicamente, eticamente e estruturalmente diferente deste supracitado, ao qual manifestamos nosso repúdio e preocupação.
Assinam esta nota as seguintes entidades que compõem a FLAMA:
Associação dos Docentes da Universidade Federal de Ouro Preto (ADUFOP)
Sindicato Metabase Inconfidentes
Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM)
Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)
Comissão dos Atingidos por Barragens de Antônio Pereira
Comitê Popular de atingidos pela Mineração em Itabira e Região
Central Sindical e Popular Conlutas (CSP Conlutas)
Intersindical Central da Classe Trabalhadora
Coordenação Regional da Dimensão Sociopolítica da Arquidiocese de Mariana
Coordenação Arquidiocesana da Dimensão Sociopolítica
Comissão para o Meio Ambiente da Arquidiocese de Mariana
Comissão Especial para Ecologia Integral e Mineração – CNBB
Fórum Permanente da Bacia do Rio Doce
Rede Igrejas e Mineração
Cáritas Brasileira - Regional Minas Gerais
Movimento Mulheres em Luta (MML)
Comitê Pereira de Luta
Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (SINASEFE – IFMG)
Movimento de Mulheres Olga Benario - MG
Unidade Popular pelo Socialismo - MG
Centro Acadêmico do curso de Serviço Social da UFOP (CASS Igor Mendes)
Brigadas Populares
Partido Comunista Brasileiro – (PCB MG – Célula Mariana-MG)
Partido dos Trabalhadores de Ouro Preto (PT)
Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU)