Na manhã desta quinta-feira (15), indígenas de nove povos e quatro estados realizaram uma marcha em Brasília (DF) para denunciar o aumento dos assassinatos de indígenas no país. Nas últimas duas semanas, pelo menos sete indígenas foram assassinados. Os povos cobram proteção e demarcação de suas terras. Participam da mobilização indígenas dos povos Apãnjekra Canela, Memortumré Canela, Akroá Gamella, Tremembé do Engenho e Kari’u Kariri, do Maranhão, Macuxi, de Roraima, Pataxó, da Bahia, e Xakriabá, de Minas Gerais.
O grupo formado por 120 indígenas - incluindo mulheres e crianças - se reuniu em frente ao Museu Nacional da República. Em seguida, caminharam pela Esplanada dos Ministérios até o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJ), onde as lideranças se pronunciaram sobre a recente escalada de violência nos seus territórios, com assassinatos e ataques armados.
Em um período de dez dias, sete vidas indígenas foram perdidas em contexto de violência nos estados do Maranhão, Mato Grosso do Sul e Bahia. Os assassinatos vitimaram indígenas dos povos Guajajara, Pataxó e Guarani Kaiowá. Além disso, dois jovens indígenas, de 16 e 14 anos, foram feridos por disparos de arma de fogo na Bahia e no Maranhão, respectivamente.
A paralisação das demarcações de terras indígenas e o desmonte dos mecanismos de fiscalização e proteção territorial, determinados pelo governo federal, têm acirrado conflitos e motivado ações violentas contra os povos. Este contexto também deve ser abordado durante a coletiva.
Em 2021, 176 indígenas foram assassinados no país, segundo o relatório Violência contra os Povos Indígenas no Brasil, publicado anualmente pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Os casos de conflitos por direitos territoriais e de invasões possessórias, exploração ilegal de recursos naturais e danos diversos ao patrimônio bateram recorde de registros neste ano.
Na tarde desta quinta (15), as e os indígenas participaram da apresentação, na Universidade de Brasília (UnB) do relatório “Violência contra os povos indígenas: dados de 2021”, publicado pelo Conselho Indigenista Missionário.
Violência O líder indígena Guarani-Kaiowá Vitorino Sanches, de 60 anos, foi assassinado na terça-feira (13) com cinco tiros no município de Amambai (MS), localizada a 351 km da capital Campo Grande. O indígena chegou a ser socorrido e levado para o Hospital Municipal de Amambai, mas não sobreviveu. Policiais civis e militares foram acionados. O caso segue em investigação.
O atentado ocorreu em plena luz do dia e foi o segundo que Sanches sofreu em pouco mais de um mês. Em 1º de agosto, o líder indígena sobreviveu a uma emboscada onde o carro dele foi alvejado com mais de 10 tiros.
É o terceiro assassinato de indígenas em menos de três meses na região. Em junho, após retomada de território, fazendeiros da região e policiais militares invadiram o território de Guapo’y, em Amambai, no intuito de expulsar, por meio do uso da força, as e os indígenas – mesmo não havendo ordem judicial. Devido à gravidade e truculência do ataque, os povos indígenas referem-se à situação como “massacre de Guapo’y”.
Na ocasião, policiais militares dispararam tiros de borracha e de arma de fogo contra as e os indígenas, deixando ao menos nove feridos e um morto – Vitor Guarani Kaiowá, de 42 anos. A comunidade denuncia ainda ser alvo de uma série de preconceitos e acusações que não encontram respaldo na realidade dos fatos.
Ainda no Mato Grosso do Sul, menos de 150 km de Amambai, a indígena Ariane Oliveira Canteiro, de 13 anos, foi encontrada morta no último domingo (11) após oito dias desaparecida. Moradora da Aldeia Jaguapiru, uma das que formam a Reserva Indígena de Dourados (MS), no município de Dourados (MS).
A adolescente era neta do Cacique Getúlio Oliveira, membro da Aty Guasu – a Grande Assembleia Guarani e Kaiowá –, e que tem sofrido ameaças há pelo menos um ano. Ariane foi encontrada morta pelos próprios indígenas, que se mobilizaram para procurá-la. Um homem foi preso, mas a polícia não forneceu mais detalhes sobre o caso.
Barra Velha (BA) Pistoleiros também realizaram um novo cerco armado contra as e os indígenas do povo Pataxó da Aldeia Nova, na Terra Indígena (TI) Barra Velha, que fica no extremo sul da Bahia. Os criminosos ameaçaram atirar nas mulheres e crianças, que se refugiaram nas matas na região. Há dez dias, ainda na região, um grupo de pistoleiros armados atacou indígenas do povo Pataxó na fazenda retomada na Terra Indígena (TI) Comexatibá, no município de Prado. Gustavo Silva da Conceição, um adolescente de 14 anos, foi morto com um tiro na cabeça.
Fonte: ANDES-SN * Com informações do Cimi e agências de notícias