Poesia: Entre os muros fechados
Autora: Carmen Soler
Interpretada por Rosana Oliveira
Assista a interpretação:
Entre os muros fechados
Um pouco antes caminhavas
levando o ar azul contra a cara,
cumprindo tuas tarefas,
sentindo-se viver calidamente.
Depois, bem pouco depois,
torturadores, armas, golpes, sangue.
Uma porta de ferro e te tiraram a luz,
a dignidade do vento.
Passar esse momento é o difícil,
e tens pouco tempo,
o medo acossa.
Bem, aconteceu, estou aqui,
é preciso enfrentar isso como outros sempre
enfrentaram.
E assim volta a luz ao calabouço.
A humilhação termina,
a sensação tremenda de impotência acaba.
Ali, entre esses muros,
sobre esse piso sujo de salivas,
ratos, baratas e excrementos,
ali vês abrir-se
como uma flor bonita tua tarefa:
ganhar a grande batalha do silêncio!
Que arma poderosa teu silêncio!
Com teu silêncio afora seguem trabalhando
e tu com eles prossegue na tarefa.
Tua dignidade volta a te vestir como um traje;
termina a vergonha de ter sentido medo.
E te olhas de novo.
E levantas o rosto.
Então sabes
que tua pequena luta não é pequena,
que é uma parte da grande tormenta!
E sentes
que são os muros, as armas, impotentes.
Os torturadores
brutais com seu medo,
totalmente impotentes!
Que força tão tremenda
nossa força!
E assim é como descobres
essa bela maneira de renascer ali,
no calabouço.
Teus companheiros seguem trabalhando.
Você está realizando tua tarefa.
Uma semente mais está plantada
e seguem tremulando as bandeiras.