Na véspera do Dia Mundial da Saúde, 7 de abril, o Brasil atingiu a lamentável e absurda marca de 4.195 mortes diárias por Covid-19. Nesse mesmo dia, dois outros dados ganharam repercussão: o aumento da riqueza de poucos e da pobreza de milhares. O ranking de bilionários da Forbes cresceu e, dos novos ingressantes, 11 são brasileiros. Enquanto isso, o Brasil ampliou para mais de 116,8 milhões a quantidade de pessoas em situação de insegurança alimentar ou passando fome no país.
Essas disparidades e o descontrole da pandemia de Covid-19, que a cada dia ceifa mais vidas, são alvo de crítica da Frente Nacional contra a Privatização da Saúde (FNCPS). Além de organizar atos por todo o país, a Frente lançou um manifesto para marcar o Dia Mundial da Saúde, no qual denuncia que o Brasil, apesar de ter o Sistema Único de Saúde como referência internacional, hoje é o epicentro mundial da pandemia de Covid-19.
“A pandemia está sem controle, o sistema de saúde em colapso, a vacinação segue lentamente e caminha-se para um colapso funerário de dimensões catastróficas. A crise sanitária é também humanitária, com altas taxas de transmissibilidade, de contaminação e de mortes pela Covid-19”, afirma o documento.
Maria Inês Souza Bravo, docente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e integrante da FNCPS, destaca a importância de se marcar, com atos e manifestações, o Dia Mundial da Saúde, como forma de chamar a atenção da população para a tragédia, sem precedentes, que assola o país, com números de mortes impactantes e uma crise generalizada, sanitária, política, social e econômica sem tamanho.
A docente ressalta a importância de engajamento dos movimentos organizados no diálogo com a população, uma vez que há pouco espaço para uma leitura mais crítica da realidade na mídia burguesa, a qual, embora se coloque em certa medida contra Jair Bolsonaro, segue aliada aos interesses do Capital.
“É fundamental, nesse momento, que a gente se organize, mobilize e sensibilize os movimentos sociais, a população em geral e a classe trabalhadora para a situação que estamos vivendo. Precisamos aproveitar todos os momentos para que a gente possa mobilizar para a luta não só nesse dia 7, mas todo o mês de abril e emendando com o mês de maio, que temos, no 1º de maio, o dia do trabalhador, para que a gente consiga efetivamente sensibilizar a população”, afirma.
A Frente Contra a Privatização da Saúde, composta por diversas entidades que lutam em defesa da Saúde Pública e do SUS, apresenta em seu manifesto medidas emergenciais para tentar frear a aceleração de contágio e mortes por Covid-19 e também começar a reverter o atual cenário.
Maria Inês frisa que essas propostas são emergenciais, e que para reverter o processo de desmonte e de privatização da Saúde, que vem ocorrendo desde os anos de 1990 e foi intensificado a partir de 2016, são necessárias medidas mais estruturais.
“Nessa pandemia o que a gente tem defendido são medidas emergenciais mesmo! Uma delas é a vacina para todas e todos e já e administrada exclusivamente pelo SUS, contra toda a forma de privatização da vacina”, explica.
A professora reforça a posição contrária ao projeto de compra de vacinas por empresas privadas, em tramitação no Congresso Nacional. “Toda privatização que aconteceu nesse país, e em todos os países, nunca garantiu acesso à classe trabalhadora. O que vai acontecer é que a vacina vai ser basicamente para o setor privado, para a população de maior poder aquisitivo e os grupos prioritários e os trabalhadores de uma forma geral não vão ter acesso”, alerta. Ela ressalta ainda que mesmo países como os Estados Unidos, que não possuem sistema público de saúde, são contra a vacinação pelo setor privado.
Dada à situação de avanço da pandemia, a Frente propõe, ainda, um lockdown de 21 a 30 dias, com ação coordenada, pois, de acordo com a docente da Uerj, a medida não terá efeito se não for executada nacionalmente e sustentada por um auxílio emergencial para a toda a população poder ficar em casa, de no mínimo de 600 reais, até o fim da pandemia.
A terceira proposta trata da ampliação do financiamento para o SUS. Segundo Maria Inês, com a Emenda Constitucional 95, que estabeleceu o teto dos gastos, a Saúde já perdeu R$ 24 bilhões e no orçamento de 2021 foram retirados mais R$ 40 bilhões. “Um absurdo esse desfinanciamento em relação à Saúde”, protesta.
“Outra questão é que coloquem em pauta os pedidos de impeachment contra esse governo, porque a gente avalia que esse governo é responsável pelo que está acontecendo. Essas são medidas emergenciais e falamos isso com muita firmeza, pois têm outras medidas que precisam ser tomadas, como a contratação de trabalhadores efetivos, concursados [para a Saúde]. No Rio de Janeiro, por exemplo, nós estamos com mais de 500 leitos fechados por conta da falta de pessoal”, acrescenta a integrante da Frente Nacional Contra a Privatização da Saúde.
Fonte: ANDES-SN
Foto: Sintuff