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Debate sobre arte e cultura e atividades musicais encerram evento do ANDES-SN na Unila


Último dia teve performance, carimbó, maracatu e show com Letícia Sabatella e Caravana Tonteria, entre outras apresentações. Fotos: J. Alex

A importância da arte e da cultura como instrumentos de resistência dos povos da América Latina e Caribe e também como ferramenta de luta foram temas do último debate do evento realizado pelo ANDES-SN na Universidade Federal de Integração Latino-Americana, em Foz do Iguaçu (PR), entre os dias 6 e 9 de dezembro. O dia também teve diversas apresentações musicais e foi encerrado com show de Letícia Sabatella e a caravana Tonteria.


Iniciando os trabalhos de sexta (9), houve a abertura do Festival Cultural (Fecult) da Unila, que coincidiu com a realização do I Festival de Arte e Cultura do ANDES-SN, com apresentações musicais. Na sequência, a mesa “O papel da arte e da cultura na resistência de nossos povos da América Latina”, com Priscila Rezende, artista visual e performer de Belo Horizonte (MG), Félix Eid, professor de música da Unila e Priscila Duque, artista do carimbó de Belém do Pará (PA).


As falas trouxeram diferentes referências de expressões artísticas e como elas contribuem para denunciar violências e expressar diferentes pautas, resgatar e divulgar saberes e tradições de diferentes povos. Também abordaram os diversos tempos do fazer artístico e as incompatibilidades com o tempo ocidental imposto pelo capitalismo, muitas vezes acelerado, inclusive nas produção de conhecimento dentro das universidades.


Priscila Rezende destacou a importância da arte como instrumento de denúncia das violências da sociedade capitalista, patriarcal, racista, machista, lgbtquiap+fóbica e capacitista. A artista utiliza seu corpo como ferramenta de seu trabalho e cunhou a expressão “corpo combate” para descrever sua obra.


“Eu costumo falar para as pessoas que o meu trabalho é totalmente incômodo, eu sei que assusta muita gente, a intensão é que seja incômodo mesmo”, afirmou Priscila. “A violência ela é atroz, a violência que a gente vive é atroz. O machismo, o racismo, a lgbtfobia são atrozes. Eu acredito que a reação não”, acrescentou, destacando que sua arte traz uma resposta ao racismo e machismo por ela vivenciados.

Feliz Eid refletiu sobre o silenciamento das expressões artístico-culturais dos povos da América Latina e do Caribe, e salientou a resistência dessas culturas e povos, através da arte. “Os tempos impostos pelas instituições de ensino ‘normal’ nem sempre são compatíveis com a organicidade de tempo dos povos latino-americanos, indígenas e afrodescendentes. Temos que romper com essa estrutura”, afirmou, ressaltando que tem buscado encontrar esse tempo nas atividades de extensão que desenvolve na Unila.

Priscila Duque trouxe sua vivência com movimentos de esquerda - partidários e sociais – e também com o carimbo, que segundo ela, carrega os saberes do estado do Pará. “O carimbó é o encontro dos povos subalternizados na Amazônia, criminalizados, exterminados em ideia, em afeto e em território na Amazônia. O carimbó é negro e é indígena”, afirmou.



A artista e jornalista destacou a necessidade dos movimentos sociais, sindicais e partidários valorizarem os artistas de resistência e as expressões culturais que não são absorvidas pela indústria cultural. “A esquerda precisa compreender que as ideias, os afetos, os sentimentos, a coesão, os laços com a ancestralidade não estão em panfletos, não estão em carros som, não estão em plenárias, apenas. Eles estão em toda a nossa força. E se a indústria cultural não absorve o artista de resistência, isso significa que ele só tem a vontade dele para existir. E eu percebo que a ampla esquerda também não absorve o artista de resistência. Discute a revolução, a tomada do poder, mas quando faz a sua festa coloca indústria cultural para tocar, quando paga artistas da indústria cultural paga o valor do mercado, e para o artista de resistência paga ajuda de custo, às vezes um lanche, porque ele tem consciência, porque ele é revolucionário”, ressaltou, convidando as e os participantes à reflexão.


Durante toda a sexta-feira (9), ocorreram atividades culturais do Fecult da Unila e, no final do dia, a apresentação dos maracatus Baque Mulher e Alvorada Nova conduziram, num cortejo pelos corredores da universidade, os e as participantes de volta ao auditório onde aconteceu o show de encerramento do evento com Letícia Sabatella e a Caravana Tonteria.



Avaliação

O evento do ANDES-SN na Unila reuniu o II Seminário Internacional Educação Superior na América Latina e Caribe e Organização dos/as Trabalhadores/as, I Seminário Multicampia e Fronteira e o I Festival de Arte e Cultura: Sem fronteiras, a arte respira lucha (arte respira luta. Luta respira arte), que aconteceram de forma intercalada de 6 a 9 de dezembro.



Ao todo, cerca de 150 docentes de seções sindicais de todo o país, mais de 35 convidadas(os) debatedores(as) e mais de 50 artistas envolvidas(os) nas expressões individuais e coletivas foram recebidos no campus Jardim Universitário, que tem em sua entrara um mural em homenagem à Marielle Franco. A organização do evento envolveu membros da diretoria do ANDES-SN, da Sesunila SSind e também da Adunioeste SSind. Dentro da programação também foi realizado um ato em defesa da Educação Pública e pela integração Latino-americana, na Ponte da Amizade, que liga o Brasil ao Paraguai.


“Para a Sesunila SSind, e certamente também para a Adunioeste SSind, foi muito importante receber os seminários e o festival, dando encaminhamento à deliberação do Congresso do nosso Sindicato. Realizar essas atividades de formação, debate e arte aqui na fronteira permitiu lançar luz não apenas à nossa realidade, mas também para as contradições e também para as potências dos territórios de fronteira. Pelo que pudemos debater numa das mesas do seminário, há uma estimativa de que temos em zonas de fronteira 12 universidades federais, com 22 campi, e 04 universidades estaduais, com 42 campi”, afirmou Fernando Correa Prado, presidente da Sesunila SSind. e representante da Comissão Local de organização.


Prado destacou o fato de que a Unila recebe estudantes de toda a América Latina e Caribe, o que também deu um sentido importante de integração às atividades. “Isso pôde ser sentido, por exemplo, na manifestação do movimento estudantil frente aos cortes criminosos que o atual governo tem feito na educação, que levam milhares de estudantes a situação de fome, de falta de moradia e impossibilidade de seguir estudante e criando ciência”, disse. “Em síntese, foi uma alegria e uma imensa honra receber esse evento. Que venham muitos pela frente, Brasil afora, com bons debates, muita arte e luta!”, concluiu.



Rivânia Moura, presidenta do ANDES-SN, destacou que a programação recebeu muitos elogios das e dos participantes. Ela reforçou a riqueza imensa de debates, de trocas, de pluralidade de diversidade, de profundidade das discussões, com representação de vários países. “Nós vivenciamos, durante esses dias, debates de muita intensidade e, com certeza, nos fortalecemos muito para as nossas lutas e para os enfrentamentos que nós vamos precisar fazer e continuar fazendo ao longo da história do nosso sindicato”, avaliou.


Para a presidenta do Sindicato Nacional, foi muito acertada a realização do I Festival de Artes e Cultura do ANDES-SN, que culminou com o Festival de Cultura da Unila. “Foi também um momento de muita troca e de muita diversidade, com a presença de vários artistas que passaram por aqui e que trouxera, em suas apresentações, a responsabilidade que esse Sindicato tem de fazer com que a política respire arte cada vez mais, que a arte continue respirando política e nos alimentando, porque a nossa vida e a nossa luta também é feita de arte, de poesia, de música, de maracatu e de tantas outras expressões culturais que tivemos nesses dias”, lembrou.


“Que a arte possa ser também constante e possa ser também determinante para os nossos planos de luta e para o que temos construído no âmbito do nosso sindicato. Nós tivemos a honra de contar com a apresentação de Letícia Sabatella e a caravana Tonteria, uma grande artista mulher, que além de arte faz política, que também nos instiga, nos motiva, nos incentiva e também serve de exemplo. Certamente, saímos dessa semana de atividades bastante fortalecidas e fortalecido, com a certeza de que o ANDES-SN se constrói na base, se constrói na luta, e é na luta que nós vamos permanecer e vamos seguir, juntas e juntos”, finalizou.



Fonte: ANDES-SN

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