Teve início, nesta segunda-feira (6), em Rio Branco (AC), o 41º Congresso do ANDES-SN, com o tema central “Em defesa da educação pública e pela garantia de todos os direitos da classe trabalhadora”. Até sexta-feira (10), as e os mais de 600 docentes participantes irão debater e deliberar sobre as ações e pautas que orientarão as lutas da categoria no próximo período.
O evento ocorre na Universidade Federal do Acre (Ufac), sob a organização da Associação dos Docentes da Universidade Federal do Acre (Adufac - Seção Sindical). Pela primeira vez, o congresso do Sindicato Nacional acontece na capital acreana.
Na sua fala de abertura, Rivânia Moura, presidenta do ANDES-SN, agradeceu às e aos presentes, às e aos artistas que se apresentaram na abertura e ainda à Adufac SSind., por “trazer a luta, a vida, a coragem, o suor e o trabalho para que esse congresso fosse possível”.
Paulo Barela, representante da CSP-Conlutas, destacou o momento da atual conjuntura internacional e nacional, com a guerra entre Rússia e Ucrânia, greves gerais em países europeus, eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a derrota de Jair Bolsonaro (PL), entre outros acontecimentos. “Esse congresso se coloca no centro de uma política de uma conjuntura efervescente", afirmou. "Os sindicatos, muito além de suas reivindicações corporativas, como dizia Lenin, devem se transformar em escolas para avançar na consciência de classe, rompendo com as amarras do Capital para a construção de uma sociedade igualitária. Há de se comemorar a derrota desse genocida, no entanto é necessário que os sindicatos mantenham sua independência e autonomia frente ao governo e construam políticas que garantam as nossas reivindicações”, pontuou.
Nedina Luíza Yawanawa, representante do Movimento Indígena do Acre e professora indígena, contou que após anos de políticas de ataques aos direitos das e dos indígenas, esse momento é de esperança. "Eu aprendi no meio de vocês que uma sociedade que tem conhecimento é uma sociedade forte e que atacar a educação é destruí-la. Tivemos um governo que retirou recursos das universidades. Agora, estamos vivendo um momento de esperança nesse novo governo, que nos convidou, povos indígenas, a ser protagonista dos nossos órgãos como a Funai, Sesai, e com a própria criação do Ministério dos Povos Indígenas. E isso nos alegra porque é um momento que estamos participando ativamente da sociedade brasileira. Estamos juntos com vocês na mesma luta. Os povos indígenas estão resistindo até agora e queremos ser inclusos nas políticas públicas na saúde e educação que é o caminho para uma sociedade melhor e forte”, disse.
Dercy Telles, líder seringueira e a primeira mulher a presidir o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri (AC), esteve presente no congresso e foi muito aplaudida pelas e pelos participantes. “Sou uma das únicas sobreviventes, que resiste a essa política do Capital, de enganação. Quando se trata de um sistema capitalista não tem outra forma de se sobrevier a partir da organização de classe independente do local. Eu venho de um histórico de luta e tive o prazer de conviver com o líder sindical Chico Mendes, assassinado em 1988, e que lutou pela vida e pela terra de trabalhadores, seringueiros, ribeirinhos, indígenas. Eu fiz parte dessa luta e mobilizamos muita a base, principalmente do município de Xapuri, e conseguimos contagiar os outros sindicatos. Essa universidade, através dos professores e estudantes, foi fundamental para organizar a classe trabalhadora do Acre. Infelizmente, o movimento sindical do Acre foi descontruído ao longo desses 20 anos que antecederam o governo atual. Por isso, afirmo que não tem como servirmos a dois senhores, ou você defende a classe ou você defende o governo. Sindicalista que defende classe não se alia a governo nenhum. Por conta desse meu posicionamento fui muito perseguida”, contou.
Para Amanda Dornelles, do Movimento pela Universidade Popular (MUP), os ataques dos últimos anos, que também antecedem o governo de Bolsonaro, provocaram seguidas retiradas de direitos da população. Nas universidades não foi diferente. “Esse aprofundamento se deu nas universidades, com os inúmeros processos de intervenção em várias instituições federais país afora, com ataques à autonomia universitária. O processo de cortes no orçamento ampliou a evasão nas universidades. Estudantes da classe trabalhadora tiveram que decidir se estudavam ou trabalhavam para sobreviver. Com o aumento da evasão, a universidade se tornou cada vez mais elitizada. Na Ufac, um levantamento feito em 2020, mostrou que mais de 70% das e dos estudantes da universidade se encontram em vulnerabilidade socioeconômica”, contou.
Letícia Mamed, presidenta da Adufac SSind., agradeceu a presença das e dos docentes que vieram de todos os estados do país para o 41° Congresso no Acre. “Há um ano, nos candidatamos para sediar esse evento. Há seis meses, realizamos reuniões diárias para tornar esse desafio concreto. Comemoramos 43 anos da nossa seção sindical e a melhor forma de mostrar nossa força é realizando esse congresso. Somo pequenos, em torno de 450 associados, mas muito corajosos. Na nossa sede, temos um painel com uma mensagem: ‘A luta que se perde, é aquela que se abandona’. E é com esse lema que agradeço a presença, sejam bem-vindas, bem-vindos e bem-vindes”, saudou.
Segundo Rivânia Moura, o tema do congresso deste ano em defesa da educação pública e pela garantia de todos os direitos da classe trabalhadora convida as e os docentes a esse compromisso. “Vivemos um período de extinção, de ataques à vida em todas as suas dimensões, ao meio ambiente, aos povos originários, a previdência, segurança pública, saúde e educação. Nós temos o compromisso nesse congresso de pautarmos essas questões e sairmos daqui fortalecidos para enfrentar os próximos desafios”, ressaltou.
A presidenta do Sindicato Nacional citou uma das frases do líder dos seringueiros, Chico Mendes. “‘No começo, pensei que estivesse lutando para salvar seringueiras, depois pensei que estava lutando para salvar a Floresta Amazônica. Agora, percebo que estou lutando pela humanidade’. Estamos nas terras de Chico Mendes, na Amazônia acreana, nesse lugar de enormes contradições, conflitos, desigualdades, mas também marcado por grandes lutas e resistência. Temos que enfatizar a importância desse congresso em um contexto de aprofundamento dos ataques a florestas e, em especial aos povos originários. É impossível começar esse congresso sem lembrar o genocídio do povo Yanomami. Essa investida de destruição dos povos originários, das suas terras e da sua cultura provocou o sumiço de comunidades inteiras. A resistência desses povos é um exemplo de luta”, ressaltou.
A mesa de abertura foi composta ainda por Amauri Fragoso, 1º tesoureiro do ANDES-SN, Regina Ávila, secretária-geral do ANDES-SN, e José Sávio Maia, 1º vice-presidente da Regional Norte I do ANDES-SN. Além da diretoria nacional, diversos representantes de entidades, movimentos sociais, indígenas e estudantis estiveram presentes, como André Valuch do Fórum Sindical e Popular da Juventude, Luana Rodrigues Silva da Pastoral da Juventude e Margarida de Aquino Cunha, reitora da Ufac.
Após a abertura, foi realizada a plenária de instalação, com aprovação do regimento, do cronograma e da pauta do 41º Congresso do ANDES-SN. No período vespertino, as e os docentes debatem a conjuntura na plenária no Tema I.
Lançamentos, ato e exibição de vídeo Logo no início da plenária de abertura, as e os docentes assistiram a apresentação de um vídeo com a retrospectiva de luta do ANDES-SN no ano de 2022. Foram exibidas imagens de carreatas, marchas e construção de dias nacionais de luta em defesa da educação, da vida, dos serviços públicos, das trabalhadoras e dos trabalhadores, e contra o machismo e racismo, em defesa da democracia e das liberdades democráticas.
Em seguida, ocorreu a apresentação do grupo Cantos e Encantos Yawanawa, que surgiu no ano de 2020 e é composto por mulheres do povo Yawanawa, originárias da Terra Indígena do Rio Gregório, todas elas professoras indígenas formadas pelas Ufac. As e os participantes puderam conhecer um pouco mais da cultura indígena no estado que concentra 34 terras indígenas reconhecidas pelo governo federal e distribuídas em 11 dos 22 municípios acreanos.
Durante a plenária de abertura, houve ainda o lançamento da edição 71 da Revista Universidade e Sociedade, publicação semestral do Sindicato Nacional. Leia aqui. E também foi instalada a Comissão de Enfrentamento ao Assédio que contará com as diretoras do Sindicato Nacional, Zuleide Queiroz e Sueli Pinheiro, e o diretor Fernando Correia. Compõem ainda a comissão João Lima e Silvane Chaves, ambos da Adufac SSind.
Foi realizado, ao final, um ato contra o feminicídio da estudante de Jornalismo da Universidade Federal do Piauí (Ufpi) e poetisa, Janaína da Silva Bezerra, de 22 anos. O crime ocorreu durante calourada na instituição, ocorrida no dia 27 de janeiro. Mulheres com as mãos levantadas entoaram “parem de nos matar” no auditório.
Acompanhe a cobertura do 41º Congresso do ANDES-SN nas redes do Sindicato Nacional.
Fonte: ANDES-SN