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Camponeses são assassinados em ação policial em área rural de Rondônia


Foto: Abrapo

Três camponeses da Liga dos Camponeses Pobres (LCP), movimento social que luta pela revolução agrária em Rondônia, foram mortos durante ação policial em área rural na última sexta-feira (13). Amarildo Aparecido Rodrigues e o seu filho Amaral José Stoco Rodrigues e, ainda, Kevin Fernando Holanda de Souza estavam na ocupação Ademar Ferreira, no distrito rural de Nova Mutum Paraná, distante 150 quilômetros da área urbana da capital Porto Velho, quando foram mortos por policiais do Batalhão de Policiamento de Choque (Bpchoque) e do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), com dezenas de tiros de fuzil.


A Polícia Militar de Rondônia afirma que a Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) também participou da operação que resultou na morte dos três integrantes da LCP. O Ministério da Justiça, contudo, nega a atuação da Força Nacional, apesar de 70 homens da tropa estarem na área por conta da “Operação Rondônia”, autorizada pelo presidente Jair Bolsonaro atendendo a pedidos de ruralistas de Rondônia.


Neste ano, sucessivos cercos policiais foram feitos aos membros da LCP nos acampamentos Ademar Ferreira e Tiago dos Santos - nomes dados em homenagem aos dois camponeses assassinados também pela polícia, em julho de 2018, nas mesmas terras. Militares vigiavam e faziam uma caçada aos integrantes do movimento, acusados pela Polícia Civil de terem assassinado dois policiais em outubro passado, o que é negado pela advogada que defende a LCP. Segundo a Liga dos Camponeses Pobres, no dia 05 de agosto, a polícia intensificou os ataques contra a área Ademar Ferreira: filmaram com drones, incendiaram barracos e fizeram vários sobrevoos de helicóptero nos acampamentos.


A morte dos policiais em 2020 chamou a atenção do presidente Jair Bolsonaro, que postou um vídeo ironizando a LCP nas redes sociais, e de seu filho, o senador Flávio, que esteve em Nova Mutum Paraná na semana seguinte, quando se reuniu com fazendeiros da região. Dias depois da visita do primogênito da família Bolsonaro, a Justiça concedeu a reintegração de posse do terreno, executada por centenas de policiais, que expulsaram os camponeses sob bombas de efeito moral. As camponesas e os camponeses, no entanto, voltaram para a área poucos dias depois.


Momentos de pânico As advogadas e os advogados da Associação Brasileira dos Advogados do Povo Gabriel Pimenta (Abrapo), uma entidade sem fins lucrativos que defende as acampadas e os acampados, colheram o depoimento de sete sobreviventes do ataque policial da última sexta-feira. Os relatos marcam momentos de pânico com tiros disparados de dois helicópteros. As e os sobreviventes escutaram barulhos de disparos quando estavam dentro dos barracos ou trabalhando na roça e correram para a mata para se esconderem.


No relato policial, é apresentada outra versão para a morte de Amarildo Rodrigues e seu filho, Amaral Rodrigues. Os militares alegam que foram surpreendidos por três homens e que dois deles atiraram. Segundo a polícia, uma das vítimas estava com um rifle e a outra com uma espingarda. Um terceiro foi preso acusado de esbulho possessório (invasão de terra). Ele foi libertado por falta de provas, segundo a Abrapo. A morte de Kevin Fernando de Holanda ocorreu no início da ação, segundo relato da PM, que afirmou que Kevin “sacou uma arma de fogo e passou a efetuar disparos”.


A advogada Lenir Correia contesta a informação dos policiais e afirma que Kevin recebeu mais de 20 tiros, sendo a maioria nas costas. “Todos estão com um sentimento de revolta muito grande. O que aconteceu foi uma execução”, afirma a advogada da Abrapo.


Em texto publicado no site Resistência Camponesa, a LCP repudiou a morte dos três camponeses. “O que fazem é aumentar nosso ódio e disposição para lutar. Estamos fazendo as contas, e vamos cobrar. Vocês pagarão caro! Estes camponeses assassinados, presos e atacados são trabalhadores honrados. Não tarda o dia em que o campesinato se levantará aos milhões e varrerá com o latifúndio e cobrará os séculos de exploração e violência contra nós cometidos. Quem viver, verá!”, afirmou a Liga.


O Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos (Cebraspo) e a Abrapo publicaram uma nota conjunta sobre o que chamam de chacina e “mais um covarde crime cometido pelas forças de repressão desse velho Estado”, em uma operação que contou com cerca de 23 viaturas e ao menos 50 policiais, conforme relatos das moradoras e dos moradores, e teve prisões arbitrárias e outras tentativas de homicídios.


“Conclamamos todas as entidades de defesa dos direitos do povo, os democratas e pessoas honestas que anseiam por justiça, para que se levantem e exijam a verdade dos fatos, apuração e punição dos responsáveis pelos assassinatos sumários dos camponeses Amarildo, Amaral e Kevin, de todos os crimes cometidos pelo governo de Rondônia contra os camponeses que lutam pela terra, bem como denunciar a cruzada persecutória em curso, que tem por objetivo criminalizar os movimentos populares que lutam pelo direito à terra”, afirmaram.


Em nota, o ANDES-SN prestou solidariedade às famílias de Amarildo, Amaral e Kevin, e aos camponeses e camponesas do acampamento e reafirmou "estar ombro a ombro na luta campesina pelo direito à terra e ao trabalho digno, contra o latifúndio e a política neofacista operada por Jair Bolsonaro e seus/suas aliado(a)s nos Estados e Municípios. Se soma aos pedidos de punição imediata aos executores e mandantes dos assassinatos e pela liberdade da(o)s camponese(a)s preso(a)s na operação".


Massacre de Corumbiara O secretário de Segurança, Defesa e Cidadania é o coronel da Polícia Militar, José Hélio Cysneiros Pachá, o mesmo que comandou um batalhão da PM, em 1995, no Massacre de Corumbiara, quando 300 homens, entre pistoleiros e policiais, atacaram um grupo que ocupava uma fazenda no Sul de Rondônia. Oito lavradores foram assassinados, 20 desapareceram e 350 foram feridos. Dois policiais também morreram. Pachá foi inocentado pelo júri em agosto de 2000. Após o Massacre de Corumbiara surgiu a Liga dos Camponeses Pobres, criada a partir da união de sindicatos urbanos com o Movimento Camponês Corumbiara, que aglutinou os sobreviventes. Fundada em 1999, a liga é hoje o principal movimento social de Rondônia em defesa da revolução agrária. Hoje, são aproximadamente 30 acampamentos mantidos pela liga no estado.



Fonte: ANDES-SN Com informações de Repórter Brasil e Resistência Camponesa

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