Indicação da Semana 17

Indicação da Semana

Música: Reis do Agronegócio

Intérprete: Chico César

Composição: Carlos Rennó / Chico César

Ouça a música em:

https://www.youtube.com/watch?v=jfdiq6M5iUw

"Ó donos do agrobiz, ó reis do agronegócio
 
Ó produtores de alimento com veneno
 
Vocês que aumentam todo ano sua posse
 
E que poluem cada palmo de terreno
 
E que possuem cada qual um latifúndio
 
E que destratam e destroem o ambiente
 
De cada mente de vocês olhei no fundo
 
E vi o quanto cada um, no fundo, mente

Vocês desterram povaréus ao léu que erram
 
E não empregam tanta gente como alegam
 
Vocês não matam nem a fome que há na terra
 
Não alimentam tanto a gente como pregam
 
É o pequeno produtor que nos provê e os
 
Seus deputados não protegem, como dizem
 
Outra mentira de vocês, Pinóquios velhos
 
Vocês já viram como 'tá o seu nariz, hein?

Vocês me dizem que o Brasil não desenvolve
 
Sem o agrebiz feroz, desenvolvimentista
 
Mas até hoje na verdade nunca houve
 
Um desenvolvimento tão destrutivista
 
É o que diz aquele que vocês não ouvem
 
O cientista, essa voz, a da ciência
 
Tampouco a voz da consciência os comove
 
Vocês só ouvem algo por conveniência

Para vocês, que emitem montes de dióxido
 
Para vocês, que têm um gênio neurastênico
 
Pobre tem mais é que comer com agrotóxico
 
Povo tem mais é que comer se tem transgênico
 
É o que acha, é o que disse um certo dia
 
Miss motosserrainha do desmatamento
 
Já o que acho é que vocês é que deviam
 
Diariamente só comer seu alimento

Vocês se elegem e legislam, feito cínicos
 
Em causa própria ou de empresa coligada
 
O frigo, a multi de transgene e agentes químicos
 
Que bancam cada deputado da bancada
 
'Té comunista cai no lobby antiecológico
 
Do ruralista cujo clã é um grande clube
 
Inclui até quem é racista e homofóbico
 
Vocês abafam, mas 'tá tudo no Youtube

Vocês que enxotam o que luta por justiça
 
Vocês que oprimem quem produz e que preserva
 
Vocês que pilham, assediam e cobiçam
 
A terra indígena, o quilombo e a reserva
 
Vocês que podam e que fodem e que ferram
 
Quem represente pela frente uma barreira
 
Seja o posseiro, o seringueiro ou o sem-terra
 
O extrativista, o ambientalista ou a freira

Vocês que criam, matam cruelmente bois
 
Cujas carcaças formam um enorme lixo
 
Vocês que exterminam peixes, caracóis
 
Sapos e pássaros e abelhas do seu nicho
 
E que rebaixam planta, bicho e outros entes
 
E acham pobre, preto e índio tudo chucro
 
Por que dispensam tal desprezo a um vivente?
 
Por que só prezam e só pensam no seu lucro?

Eu vejo a liberdade dada aos que se põem
 
Além da lei, na lista do trabalho escravo
 
E a anistia concedida aos que destroem
 
O verde, a vida, sem morrer com um centavo
 
Com dor eu vejo cenas de horror tão fortes
 
Tal como eu vejo com amor a fonte linda
 
E além do monte o pôr-do-sol porque por sorte
 
Vocês não destruíram o horizonte ainda

Seu avião derrama a chuva de veneno
 
Na plantação e causa a náusea violenta
 
E a intoxicação em adultos e pequenos
 
Na mãe que contamina o filho que amamenta
 
Provoca aborto e suicídio o inseticida
 
Mas na mansão o fato não sensibiliza
 
Vocês já não tão nem aí co'aquelas vidas
 
Vejam como é que o agrobiz desumaniza

Desmata Minas, a Amazônia, Mato Grosso
 
Infecta solo, rio, ar, lençol freático
 
Consome mais do que qualquer outro negócio
 
Um quatrilhão de litros d'água, o que é dramático
 
Por tanto mal, do qual vocês não se redimem
 
Por tal excesso que só leva à escassez
 
Por essa seca, essa crise, esse crime
 
Não há maiores responsáveis que vocês

Eu vejo o campo de vocês ficar infértil
 
Num tempo um tanto longe ainda, mas não muito
 
E eu vejo a terra de vocês restar estéril
 
Num tempo cada vez mais perto, e lhes pergunto
 
O que será que os seus filhos acharão de vocês
 
Diante de um legado tão nefasto
 
Vocês que fazem das fazendas hoje um grande deserto verde
 
Só de soja, de cana ou de pasto?

Pelos milhares que ontem foram e amanhã serão
 
Mortos pelo grão-negócio de vocês
 
Pelos milhares dessas vítimas de câncer
 
De fome e sede, fogo, bala e de AVC's
 
Saibam vocês que ganham com um negócio desse
 
Muitos milhões, enquanto perdem sua alma
 
Que eu me alegraria se vocês morressem
 
Saibam que não me causaria nenhum trauma

Eu me alegraria se afinal morresse
 
Esse sistema que nos causa tanto trauma

Eu me alegraria se vocês morressem
 
Talvez assim a terra enfim encontrasse calma"

CHAMADA CULTURAL ADUFOP:
 

A ADUFOP tem recebido indicações de obras através da Chamada Cultural ADUFOP. A iniciativa tem intuito de ajudar a compreender o momento através da cultura. Faça sua indicação por direct (Instagram) ou encaminhe para o e-mail: comunicacao@adufop.org.br